Era para ser só mais um dia de aula na turma de 5º ano do Colégio Estadual Imigrante, de Caxias do Sul, mas acabou se transformando em uma dessas histórias que fazem com que as pessoas voltem a acreditar na educação como meio de transformação.

A pequena Alice Cruz Pires, 10 anos, sempre foi boa aluna, mas nos últimos tempos a professora Rafaela Ambrozini percebeu que algo estava errado:  o nível de atenção havia diminuído, as tarefas de casa já não eram feitas e, consequentemente, as notas da até então dedicada aluna tinham despencado. Inconformada, a professora chamou a menina para uma conversa, pois precisava saber o que havia com Alice, que de início, por achar que ninguém poderia ajudá-la, não queria contar seus problemas à professora. Com um pouco de insistência, Rafaela descobriu o que atormentava a estudante: o recente divórcio dos pais.

Com muita sensibilidade e empatia, a professora mostrou para Alice que todas as situações têm seu lado positivo. A mensagem foi tão reveladora e positiva para Alice que ela passou a observar a situação por outra perspectiva. O resultado foi a publicação do primeiro livro da jovem escritora:  Dois Cantinhos para Mim. A obra, ilustrada por André Fortunati, foi lançada no sábado na 33ª edição da Feira do Livro de Caxias do Sul.

O livro, no qual a autora conta o que vivencia, está sendo vendido a R$ 8 na Feira. “A ideia surgiu no ano passado, quando meus pais se separaram. No começo, fiquei triste, mas depois percebi que o lado bom era maior que o ruim. Quero passar a ideia de que não é tão ruim e que tem motivo para acontecer”, relatou a estudante em entrevista ao Jornal de Caxias.

 A história chamou atenção da coordenadora da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Janice Terezinha Zambarda Moraes, que convidou a aluna para visitar a coordenadoria. Na ocasião, a escritora presenteou Janice com um livro autografado e a convidou para o lançamento. Também vieram a professora, a equipe diretiva da escola, o ilustrador e mãe da aluna-escritora, Lidiane Cruz Pires.

 “Louvo a atitude da professora, ações como essa que fazem a gente acreditar que a Educação não está o caos que muitas vezes a gente imagina. A professora teve e a sensibilidade de perceber que um problema pessoal está afetando a aluna e trabalhou isso. Além do lado humano de fazer a menina não julgar a família, despertou nela o interesse pela leitura e pela escrita”, elogiou Janice. “São professores com esse perfil que a gente precisa em número maior, professores que consigam captar esse tipo de situação e resolver”, continuou.

Ainda ao Jornal de Caxias, a professora se disse surpresa por fazer parte da obra. “Acredito que o educador precisa ter um olhar diferenciado para seus alunos. Não podemos só transmitir conhecimento, temos de conseguir olhar além do que o aluno está sentindo, porque por trás de cada comportamento em sala de aula existe uma história", completou.