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Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais apresenta dados da violência escolar da Capital

Programa que contempla 25 escolas de Porto Alegre apresentou resultados após dois anos de pesquisa

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Secretária-adjunta de Educação, Iara Wortmann, valoriza a importância dos dados obtidos na pesquisa para o trabalho das Cipaves
Secretária-adjunta de Educação, Iara Wortmann, valoriza a importância dos dados obtidos na pesquisa para o trabalho das Cipaves
Por Diego da Costa

A Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), com apoio da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), apresentou, nesta terça-feira (24), os resultados da pesquisa do Programa “O Papel da Educação para Jovens Afetados pela Violência e Outros Riscos". O encontro, ocorrido no Auditório Paulo Freire, no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), contou com a presença de diretores e alunos das 25 instituições de ensino da Capital envolvidas no projeto.

De acordo com a coordenadora do programa, Miriam Abramovay, a pesquisa foi importante para identificar o perfil dos estudantes que mais sofrem com a violência. Segundo ela, em Porto Alegre, assim como nas demais regiões do país, os jovens negros, pobres e que se incluem no público LGBT são os mais afetados. “Além dos já tradicionais tipos de crimes relacionados ao tráfico de drogas, existem uma série de violências que tratam da questão da discriminação étnica, de classe e de gênero”, explica.


Para a secretária-adjunta de Educação, Iara Wortmann, os dados da pesquisa contribuem para o trabalho das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipaves), que já funcionam em 2,5 mil escolas do Estado. “Este é um momento importante de avaliação, que irá fortalecer o combate à violência nas nossas instituições de ensino”, destaca.


Pesquisa


A pesquisa foi feita através de 1,2 mil questionários, entre 2016 e 2017, em 25 instituições de ensino de Porto Alegre. Destas, quatro foram escolhidas para o desenvolvimento de ações de prevenção da violência, dentro do programa, com foco no Ensino Médio.


Escolas participantes


Raul Pilla, Piratini, Baltazar de Oliveira Garcia, Rafaela Remião, Cel. Emilio Massot, Cônego Paulo de Nadal, Dom João Becker, Eng. Ildo Meneghetti, Florinda Tubino Sampaio, Francisco A. Vieira Caldas Jr, Odila Gay da Fonseca, Padre Rambo, Paula Soares, Prof. Elmano Lauffer Leal, Protásio Alves, Ruben Berta, Dolores Alcaraz Caldas, Dom Diogo de Souza, Fernando Gomes, Gomes Carneiro, Alberto Torres, Ceará, Gen. Flores da Cunha, Rio Branco e Gen. Álvaro Alves da Silva Braga.


Resultados da pesquisa


– 42% dos estudantes já sofreram algum tipo de agressão na escola, dos quais os mais comuns são roubos e furtos (14%); brigas/agressão física (14%); xingamentos (13%); uso de drogas ilícitas (11%); uso de bebidas alcoólicas (9%).


– 79% declaram que já foram discriminados: 12% pela sua raça/cor; 10% por ser homem/mulher; 9% pela orientação sexual; 11% pela religião; 10% pela classe social; 8% pela preferência política; 17% pela roupa/aparência e 11% pelo lugar onde mora.


– O entorno das escolas também é identificado como preocupante uma vez que 86% dos pesquisados declararam haver violências decorrente de assaltos (16%); roubos/furtos (14%); uso de drogas ilícitas (9%) e brigas/agressão física (8%).


– Os jovens afirmam que sentem falta de serem ouvidos e de dialogarem com os adultos, que “deveriam considerá-los como atores fundamentais no processo ensino-aprendizagem”. Apontam ainda a dificuldade de viver em uma sociedade violenta e conservadora e discriminatória em relação a questões de gênero, orientação sexual, raça/cor etc.


– Sobre o futuro, muitos querem fazer uma faculdade e ter uma profissão e alguns refletem sobre a situação do Brasil, a vontade de estudar e a de trabalhar em outro país.


– Sentem-se discriminados pelo lugar onde moram e quando realizaram entrevistas de emprego vivenciaram a exclusão social por serem pobres e morarem em áreas periféricas. No entanto, houve também depoimentos sobre alegria, diversão, amizades, crença no futuro, mostrando-se resilientes, dando continuidade a sua vida e escolaridade.

Resultados do Programa:

O Programa aprofundou e buscou entender melhor a relação entre a violência, a condição socioeconômica dos jovens, a exclusão social na comunidade e a exclusão escolar a fim de compreender como a escola pode contribuir para a prevenção da violência e da vitimização de adolescentes e jovens que prejudicam o clima escolar e, não raro, causam repetência, abandono e evasão.

Buscou estudar as percepções que o próprio jovem tinha sobre a sua escola e sua realidade, onde se mostraram sentidos e inquietações sobre várias situações vividas. Pretendeu ainda, contribuir para aumentar os níveis de resiliência através de atividades formativas e práticas dentro das escolas, capazes de cooperar para a superação das adversidades que os jovens enfrentam diariamente, assim como melhorar suas relações sociais e níveis de escolaridade.

Ressalta-se, com o Programa, a importância de discutir a escola como lugar possível de aprendizagem e criação, resgatando seu compromisso social com a participação dos adolescentes e jovens por uma sociedade mais justa.

A participação efetiva dos estudantes, sob orientação de professores e apoio da direção, possibilitou a discussão sobre incivilidade das violências, como se dão as relações sociais, fatores de risco e de proteção existentes, racismo, homofobia, cuidado com o patrimônio público e etc., os quais foram imprescindíveis para o desenvolvimento do trabalho, além de conhecer a subjetividade, os avanços, as frustrações, alegrias e as possibilidades de mudança. Com isso, os adolescentes e jovens puderam colocar em palavras, interpretar e teorizar sobre a sua vivência, através da experiência como “escritores da realidade”, fazendo observações e entrevistas.

A estratégia de mudança se iniciou após coleta e análise dos resultados das pesquisas qualitativas e quantitativas e da elaboração de um Plano de Ação geral contendo as principais demandas diagnosticadas. O Plano de Ação foi discutido com os estudantes e professores participantes do Programa em cada escola e reelaborado por estes sujeitos, identificando as demandas específicas e iniciativas a serem desenvolvidas para melhorar a convivência escolar.

A efetiva participação dos jovens se deu através 1) da sua iniciação científica – onde tornaram-se pesquisadores da sua própria realidade a partir de um Diagnóstico Participativo; 2) da elaboração e implantação de um plano de ação na escola para melhoria do clima escolar e redução das várias violências identificadas; 3) da produção de conteúdos críticos de informação e comunicação através das oficinas de educomunicação.

A execução deste trabalho através do plano de ação elaborado pelos estudantes contou com estratégias que possibilitou a criação de relações sociais mais positivas, prazerosas, prevenindo e até mesmo mitigando situações geradoras de violência e, assim, favorecendo a melhoria do clima escolar, a saber:

  1. estudantes que passaram a dialogar e se posicionar melhor junto à direção;

 

  1. conseguiram desenvolver projetos na escola onde propuseram mudanças e as executaram como limpeza nas áreas comuns da escola, grafite no muro interno, abaixo assinado para cobrar de órgãos competentes iluminação nos arredores da escola, consulta aos estudantes sobre o uso do uniforme ou crachá para segurança, ajuda na distribuição merenda, entre outros;

 

 

  1. maior possibilidade de diálogo Inter geracional;

 

  1. passaram a ser referência positiva na escola;

 

 

  1. tiveram um melhor relacionamento entre seus pares e com seus professores, além dos ganhos pessoais como superação da timidez; maior autoestima; crescimento pessoal; mais autonomia; visão diferenciada sobre a escola; o sentimento de importância do ambiente escolar e de pertença à instituição.

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